Uma coisa que voltei a fazer recentemente, agora que minha casa está 100% arrumada, foi voltar a cozinhar minhas própria refeições.
Sempre tive problemas de autoestima, e uma das maiores dificuldades que eu tenho é fazer coisas para mim mesmo. Sempre achei que um dos maiores efeitos disso estava na falta de cuidado com minha própria imagem: pouca atenção às roupas que eu uso, falta de cuidados com minha pele, meu cabelo…
Porém se alimentar bem é um dos maiores atos que alguém pode fazer para si mesmo.
Quando alguém vem me visitar ou passar algum tempo aqui em casa, eu tenho o maior prazer de cozinhar nossas refeições, sempre pensando em cuidar de quem está comigo.
Mas mesmo eu estando comigo 100% do tempo, eu não tenho o mesmo cuidado com a minha alimentação quando estou sozinho. Acho que passei uns 4 meses almoçando apenas delivery, miojo ou alguma outra porcaria que eu compro no mercado aqui em baixo de casa.
Nunca parei para pensar no tamanho da agressão que estava fazendo comigo mesmo. Isso vai muito além da mentalidade individualista que defenderia uma boa alimentação com argumentos de “quem não come bem não conseguirá ser produtivo / não terá energia para trabalhar”. Vai muito além da mentalidade PrimoRicoTM que defenderia o preparo do próprio alimento com argumentos de: “é muito mais barato comer em casa do que pedir um iFood”
A maior consequência da minha má alimentação está longe do que eu consigo produzir: o diretor David Lynch passou 7 anos da vida dele almoçando um café e um milkshake do Bob’s [1] e mesmo assim produziu Eraserhead.
A real consequência é a minha percepção de mim mesmo: Não valho a pena nem o esforço de preparar um alimento nutritivo, a necessidade mais básica de um ser humano. Se não consigo fazer nem isso por mim, porque fazer qualquer outra coisa?
Quando eu almoço um miojo, tendo condição de almoçar comida de verdade, estou dizendo que deixar minha a própria existência pode ficar de escanteio. Estou dizendo que a sua vida pode esperar pois existe algo mais importante a ser feito.
Quantas vezes deixei de almoçar por pura preguiça. Por não acreditar que eu mesmo valia o esforço.
Quantas vezes deixei de almoçar para continuar trabalhando ou estudando. Por colocar projetos alheios a frente de minha vida.
Nunca mais.
Agora os dias de miojo acabaram.
Referências
[1] David Lynch’s eating habits – Disponível em https://artistexplorer.livejournal.com/5103.html. Acesso em 17 de ago. de 2025.